Imensurável

Protocolo João 3:16

Rhēmata como Ambiente da Transcendência

Análise Semântica, Exegética e Hermenêutica de ῥῆμα em 2 Coríntios 12:4: A Transcendência de “ἄρρητα ῥήματα”

Em 2 Coríntios 12:4, Paulo descreve uma experiência celestial onde ele ouviu “palavras inefáveis” – ἄρρητα ῥήματα (arrēta rhēmata), ou seja, palavras inexprimíveis. Aqui, a escolha de ῥῆμα (rhēma) em vez de λόγος (logos) é significativa e reflete nuances importantes em termos semânticos e teológicos, especialmente no que diz respeito ao ambiente da transcendência.

Diferença entre Logos e Rhēma

Λόγος (logos) é um termo frequentemente usado no Novo Testamento para se referir à palavra de Deus de forma ampla, abstrata ou conceitual. Logos carrega o sentido de uma verdade lógica, uma ideia ou discurso que abrange a totalidade de uma mensagem. No contexto bíblico, logos pode ser a palavra escrita ou falada de Deus em um sentido geral (por exemplo, João 1:1, onde Cristo é o “Logos” eterno).

Ῥῆμα (rhēma), por outro lado, refere-se a uma palavra falada específica, um pronunciamento que é direto e imediato. Enquanto logos pode ser considerado a palavra de Deus em sua totalidade, rhēma se refere à palavra viva e eficaz de Deus, falada ou revelada em um momento preciso, trazendo uma realidade espiritual concreta ao presente.

Quando Paulo usa ῥῆμα em 2 Coríntios 12:4, ele está se referindo a palavras específicas que ouviu em sua experiência mística. Essas palavras, no entanto, são ἄρρητα, ou seja, palavras que não podem ser expressas adequadamente na linguagem humana. A combinação de ἄρρητα ῥήματα denota que Paulo vivenciou uma revelação particular e direta, mas de natureza transcendental e inacessível aos parâmetros comuns da comunicação humana.

Rhēmata como Ambiente da Transcendência

A escolha de ῥῆμα para descrever essas palavras celestiais aponta para a natureza transcendente dessa experiência. Enquanto λόγος pode ser considerado o conceito ou mensagem divina universal, ῥῆμα enfatiza a manifestação imediata e específica dessa mensagem, trazendo à tona a dimensão viva da revelação divina. Em seu ambiente celestial, Paulo experimentou uma comunicação divina tão profundamente espiritual e transcendente que não poderia ser traduzida em termos humanos. As ῥήματα que ele ouviu estavam situadas em um “ambiente da transcendência” – eram uma palavra viva, ativa e diretamente revelada, mas inefável para os sentidos humanos e a linguagem terrena.

Essas ῥήματα são palavras de Deus que comunicam algo profundamente íntimo e experiencial, sugerindo que a revelação transcendente pode ser recebida em espírito, mas não necessariamente articulada de forma compreensível ou traduzível. A transcendência está, portanto, no fato de que a experiência de Paulo foi além das palavras humanas e se alojou em um espaço espiritual onde a revelação divina assume uma forma superior.

Vinculação com Romanos 10:17: A Relação entre πίστις, ἀκοή e ῥήματος

Romanos 10:17 estabelece uma relação fundamental entre a fé (πίστις), a audição (ἀκοή) e a palavra (ῥῆμα): “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra (ῥήματος) de Cristo”. Neste versículo, Paulo usa ῥῆμα para se referir à palavra específica que provoca fé quando ouvida.

  1. πίστις (pistis) – a fé – não é gerada por uma compreensão abstrata ou por conhecimento geral de Deus (logos), mas sim por uma revelação pessoal e específica, o ῥῆμα, que atinge o coração de uma maneira direta e eficaz.
  2. ἀκοή (akoē) – o ouvir – refere-se à capacidade de captar essa palavra revelada. A audição, nesse contexto, não é meramente física, mas envolve a percepção espiritual da mensagem divina. É a resposta ativa a uma palavra revelada que chama a fé à existência.
  3. ῥῆμα (rhēma) – a palavra falada – é o meio pelo qual a fé é despertada no ouvinte. Diferente de λόγος, que pode ser a palavra escrita ou conceitual, ῥῆμα é a palavra que entra diretamente na experiência pessoal, movendo o ouvinte à fé.

A ligação entre Romanos 10:17 e 2 Coríntios 12:4 está na ideia de que ῥήματα são palavras divinas específicas que não apenas informam, mas transformam e moldam a realidade espiritual do receptor. Em Romanos, as ῥήματα provocam fé ao serem ouvidas, enquanto em 2 Coríntios, as ἄρρητα ῥήματα que Paulo ouviu expressam verdades que, embora espiritualmente impactantes, transcendem a capacidade humana de compreensão e comunicação.

Essa vinculação sugere que a fé (πίστις) não nasce de um entendimento meramente intelectual ou conceitual de Deus (logos), mas sim de um encontro direto com a revelação divina, no qual ῥῆμα atua como a palavra eficaz que toca o coração do ser humano e o transforma. A fé, portanto, é fruto de uma audição espiritual (ἀκοή) que recebe e responde ao ῥῆμα específico e vivificador de Cristo.

Conclusão

A escolha de Paulo por ῥήματα em 2 Coríntios 12:4 reflete uma comunicação divina íntima e transcendente, que vai além da linguagem humana. Essas “palavras inefáveis” (ἄρρητα ῥήματα) representam a experiência de revelação transcendente de Paulo, onde ele acessa uma realidade espiritual que não pode ser traduzida para a experiência comum. Em Romanos 10:17, o conceito de ῥῆμα é vinculado diretamente à fé (πίστις) e ao ouvir (ἀκοή), sublinhando o poder da palavra falada de Deus para provocar transformação e engajamento espiritual. Enquanto λόγος carrega uma conotação mais universal e abstrata, ῥῆμα representa a palavra divina em sua forma específica, viva e revelada diretamente no contexto da experiência e da fé pessoal.

Rhēmata como Ambiente da Transcendência

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